Por Ricardo Ojeda Marins (Artigo publicado no site Gestão do Luxo da FAAP)

Montadoras de carros de luxo apostam na produção de carros híbridos e investem em ações que reduzem o impacto ao meio ambiente

Cada vez mais praticada por empresas de diversos segmentos, a responsabilidade social vem ganhando relevância também no mercado de luxo, e no segmento automotivo não seria diferente. Fatores como o aquecimento global e o aumento da escassez de recursos naturais vêm fazendo com que muitas montadoras modifiquem seus processos de produção e ofereçam a seus clientes opções de automóveis econômicos e menos poluentes, sem, é claro, perder o estilo e o alto valor agregado do produto.

Diversas marcas de prestígio internacional como Ferrari, Porsche, Jaguar e Mercedes-Benz apostam em ações sustentáveis e na produção de automóveis híbridos, unindo altíssimo luxo, potência e menor consumo de combustível, em geral modelos cobiçados por consumidores de alto poder aquisitivo apaixonados por carros, velocidade e engajados em questões ecológicas.

A italiana Ferrari inseriu diferenciais como câmbio de dupla embreagem e injeção direta de combustível em seus automóveis, além de colocar painéis solares para diminuir o consumo de energia elétrica da unidade de sua fábrica na Itália, reduzindo a emissão de dióxido de carbono. A legendária marca está disposta ainda a desenvolver modelos híbridos. É o que mostra o modelo Ferrari 599 Hy-Kers, que teve sua produção experimental e que é, literalmente, uma Ferrari verde. A marca italiana, reconhecida por sua icônica pintura vermelha, ganhou um modelo de cor incomum por uma razão especial: o fato de ela ser a primeira Ferrari híbrida.

O motor elétrico utilizado na Ferrari 599 Hy-Kers pesa apenas 40 quilos e é acoplado ao restante do conjunto com o auxílio de uma de suas duas embreagens existentes na transmissão de sete velocidades, com uma potência superior a 100 cavalos e que pode atuar como um gerador ao armazenar a energia cinética desperdiçada nas frenagens, transformada em energia elétrica por meio dos freios regenerativos. Sua eletricidade alimenta os sistemas auxiliares, como a direção hidráulica, o ar-condicionado e freios, e é também utilizada para abastecer os componentes eletrônicos do veículo. Seu motor elétrico atua também em conjunto com o propulsor movido a gasolina, principalmente em situações que exigem potência extra, como em acelerações ou ultrapassagens. O equipamento é parecido com o mesmo utilizado pela escuderia italiana nas corridas de Fórmula 1.

Renomada por seus modelos esportivos luxuosos, a Porsche também está engajada na produção de automóveis com menor consumo de combustível e menos poluidores, como o modelo híbrido Porsche Cayenne S Hybrid, primeiro automóvel híbrido da montadora que, além de contar com o mesmo motor V6 3.6 litros movido a gasolina, utiliza uma unidade elétrica de 38 KW. Sua fonte de energia elétrica ajuda o veículo a manter o consumo de combustível mais baixo e a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. O motor de combustão e o motor elétrico podem trabalhar em conjunto ou separadamente. Quando a energia acumulada se esgota, o motor elétrico é desligado e o automóvel passa a funcionar com gasolina. Há ainda a função de recuperação de energia nas frenagens e desacelerações, além de recarregamento das baterias pelo próprio motor elétrico, que funciona como um gerador.

A marca britânica Jaguar também é destaque no mercado socialmente correto. Aparentemente, seu modelo C-X75 possui o tradicional estilo da grife. Mas, por trás desse aspecto clássico, tem-se um dos carros mais ousados dos últimos anos. Ao invés do tradicional motor V8, ele possui quatro motores elétricos com 195 CV de potência cada um, montados diretamente sobre as rodas. Ao todo são 780 CV, que fazem dele um dos veículos elétricos mais potentes do mercado. Ao invés do motor a gasolina, que serve de apoio nos carros híbridos, o C-X75 tem duas microturbinas movidas a gás, que giram a 80 mil rotações por minuto e produzem a energia necessária para alimentar as baterias, gerando menos poluição do que os motores convencionais. Além disso, suas microturbinas pesam apenas 35 kg cada uma. Essa combinação de fatores ajuda o C-X75 a alcançar 330 km/h e rodar até 900 km a cada recarga. Seu moderno sistema de som foi desenvolvido pela empresa inglesa Bowers & Wilkins, e é formado por uma película que contém dezenas de micro alto-falantes que cobrem todo o revestimento das portas.

Já a alemã Mercedez-Benz inovou ao produzir o modelo S400 Hybrid, que foi o primeiro veículo híbrido vendido oficialmente no Brasil. Esse luxuoso modelo possui motor 3.5 litros V6, de 279 CV, movido a gasolina e auxiliado por um propulsor elétrico, de 20 CV. Porém, diferente do que ocorre em alguns veículos híbridos, o motor abastecido pelas baterias de íons de lítio não opera sozinho, mesmo em baixas velocidades e com pouca demanda por desempenho. O propulsor elétrico apenas soma potência ao bloco a combustão nas situações em que este é mais exigido, economizando combustível e emitindo menos poluentes. As baterias são reabastecidas pelo próprio motor, que solta parte de sua energia para um gerador que a transforma em recarga, e pela energia dissipada pelos freios, algo semelhante à tecnologia Kers utilizada na Fórmula 1. O S400 Hybrid também conta com sistema especial que interrompe o funcionamento do motor em velocidades inferiores a 8 km/h e com o freio pressionado. Sua velocidade máxima é de 250 km/h, enquanto o consumo combinado é de 11,9 km/h. Vale destacar o seu sistema de informação do sistema híbrido. Há uma tela central no painel com uma espécie de raio x do veículo, com informações como o fluxo de gasto ou acúmulo de energia do motor elétrico.

A indústria automotiva vem investindo no segmento de carros híbridos, porém não apenas pela rigidez do mercado atual com relação à ecologia, sustentabilidade e outras questões ambientais. Essas empresas mantêm o foco no consumidor que busca desempenho esportivo, conforto e velocidade em automóveis de alto luxo. A velocidade é valor intrínseco desses automóveis, que proporcionam a seus consumidores o prazer de dirigir em alta velocidade, porém de maneira mais consciente em relação a seus impactos ao meio ambiente. As grandes marcas estão de olho no consumidor de alto poder aquisitivo que busca conforto, velocidade e também se preocupa com as questões globais. Esse é o luxo consciente.